Atualmente os anticoncepcionais hormonais combinados orais (AHCO ou pílula anticoncepcional) passaram a ser vistos como drogas perigosas e muito prejudiciais à saúde.

É comum encontrar pessoas, inclusive no meio médico com medo de seus efeitos colaterais. Isto ocorre, sobretudo por casos isolados de trombose venosa, embolias e até acidente vascular cerebral em pessoas jovens que usavam estas medicações. Apesar destes casos esporádicos é importante deixar claro que o uso destas medicações é seguro e muitos estudos são feitos para comprovar sua eficácia e segurança. A trombose é uma doença multifatorial, isto é, muitos fatores aumentam o seu risco e é a associação destes fatores que potencializa a chance de uma trombose. Desta forma antes de pensar em suspender o seu contraceptivo é interessante pensar em controlar fatores de risco evitáveis como cigarro e obesidade.

AHCO ou pílula anticoncepcional é um comprimido que contém uma combinação de hormônios que inibe a ovulação e altera o muco do colo uterino tornando-o hostil para o espermatozoide. A eficácia desta medicação é alta e o índice de falha é de 0,1%, entretanto existem efeitos indesejáveis associados ao seu uso.  A primeira pílula foi lançada em 1960, era composta de altas doses de hormônio e por este motivo estava associada a muitos efeitos colaterais desagradáveis e perigosos. Hoje em dia as doses de hormônio presentes na maioria dos AHCO são muito baixas e os efeitos colaterais mais amenos. Apesar dos recentes avanços a trombose venosa profunda ainda é uma complicação associada ao uso dos AHCO, mesmo as drogas mais modernas aumentam o risco de tromboembolismo venoso (tromboses e embolias venosas). Um estudo recente revelou que as drogas com maior risco de trombose venosa no mercado são as pílulas que tenham composição com drospirenona, o desogestrel, o gestodeno e a ciproterona. Estas medicações elevam em 4 vezes o risco de trombose em relação a população em geral.

O risco de uma mulher que não usa AHCO apresentar uma trombose venosa durante 1 ano é de 4 a 5 em 10 mil mulheres por ano, portanto o risco é muito baixo. O uso de pílulas contento
Levonorgestrel ou noretisistona aumenta esse risco em duas vezes, portanto   10 em 10 mil mulheres por ano terão trombose usando estas medicações. O uso de pílulas, adesivos e anel vaginal contendo drospirenona,  desogestrel,  gestodeno e a ciproterona  aumenta o risco em mais duas vezes, portanto, 20 em 10 mil mulheres por ano.  É importante lembrar que a obesidade, sobretudo a obesidade mórbida (Índice de massa corpórea acima de 35 kg/m²), aumenta o risco de trombose em 4 vezes, portanto o risco de mulheres obesas apresentarem trombose é de 16 em 10 mil mulheres por ano sem usar contraceptivo hormonal, e a associação de obesidade e contraceptivo hormonal potencializa o risco. O Tabagismo eleva o risco em duas vezes. A idade também é um importante fator de risco e pessoas com mais de 45 anos tem seis vezes mais tromboses do que pessoas com menos de 20 anos independente do sexo.  Conhecendo a real magnitude do risco de trombose associado ao uso de AHCO fica evidente que a pílula anticoncepcional não é um vilão e seu uso não é proibido ou ruim, devemos apenas nos atentar aos demais fatores de risco associados que podem potencializar o risco de uma TVP.

Porque os anticoncepcionais hormonais combinados orais causam trombose?

Os hormônios usados nos AHCO aumentam a viscosidade do sangue e o risco de formação de coágulos no interior das veias e artérias. Estes coágulos ou trombos podem ser levados pela corrente sanguínea ao pulmão, cérebro e outros órgão causando embolia de pulmão, acidente vascular cerebral (AVC) e complicações potencialmente fatais. A formação de coágulos ou trombos no interior das veias profundas recebe o nome de Trombose venosa profunda, a migração destes trombos para o pulmão recebe o nome de embolia de pulmão e a formação de trombos no interior das artérias cerebrais provoca o AVC. Apesar destas complicaçõs extremamente grave os AHCO são considerados drogas seguras. O número de mulheres que apresentam TVP, Embolia ou AVC causados pelo uso de AHCO é bastante pequeno na população em geral.

 

Para que servem os anticoncepcionais hormonais combinados orais?

A anticoncepção tem o objetivo de evitar uma gestação indesejada após uma relação sexual e a decisão do melhor método contraceptivo deve ser tomada pelo ginecologista e pela paciente. Existem diversas opções: tabelinha, coito interrompido, preservativo feminino e masculino, diafragma, DIU com ou sem hormônio, pílula, adesivo, implante, anel vaginal, laqueadura, vasectomia, e contraceptivo injetável. Vários fatores individuais devem ser levados em consideração na escolha do melhor método para cada paciente. História prévia ou familiar de trombose venosa, tabagismo, obesidade, presença de trombofilias são contraindicações relativas para o uso de contraceptivos hormonais pois estas condições também aumentam o risco de tromboses venosas. O risco de trombose venosa também aumenta durante o pós-operatório, e qualquer procedimento cirúrgico é considerado um fator de risco sendo que as cirurgias ortopédicas são as com maior risco. Entretanto não há base científica para suspender os anticoncepcionais durante o pré-operatório.

 

Devo parar os anticoncepcionais hormonais combinados orais para não ter trombose?

Conforme explicamos acima, o risco de uma trombose associada ao uso de anticoncepcionais hormonais combinados orais é muito baixo. Paciente sem fatores de risco associado como cigarro, obesidade, história prévia ou familiar de trombose venosa ou trombofilias (alterações genéticas ou adquiridas que aumentam a coagulação do sangue) podem usar ACOH com segurança. Estudos indicam que é necessário suspender o ACOH de 3 mil mulheres para evitar apenas uma trombose. Portanto o uso da pílula anticoncepcional é seguro desde que seja prescrito por um médico ginecologista que tenha avaliado os riscos e contraindicações do medicamento.